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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Liderança ética



Liderança ética 1 – o protagonismo rotativo
No início desta série sobre a liderança, começo com uma abordagem direta dos termos líder e liderança.
Em minhas atividades acadêmicas, seja em aulas sobre metodologia, seja em orientações e em bancas de mestrado ou doutorado, argumento sobre a importância de se estabelecer uma boa conceituação e de se construir um bom método. O primeiro caso serve para dar precisão à ideia, o segundo para se poder desenvolver um novo conhecimento, aplicável de forma consistente: conceituar para analisar, analisar para conhecer, conhecer para melhorar.
Aplico isso ao assunto da liderança para mostrar como é algo muito diferente do que se tende a chamar de líder.
Líder é uma palavra importada do inglês, leader, substantivo para o verbo to lead, que significa fundamentalmente indicar um caminho ou conduzir alguém (por um caminho ou para um lugar ou objetivo / meta). Nesse sentido, o líder tornou-se (e vem se fortalecendo como) um grande herói, problema que será discutido no próximo post, possivelmente na semana que vem. Ao mesmo tempo, ocorre a banalização do termo “líder”, no vão objetivo de provocar (magicamente) o empoderamento, como é o caso de se chamar a pessoa responsável pelo andamento de um projeto (coordenador de projeto) de “líder de projeto”.
Ou seja: hoje em dia não só é essencial que toda pessoa seja capaz de ser líder como praticamente qualquer pessoa pode ser considerada líder. Basta ter que cumprir uma responsabilidade que envolva a participação de um terceiro. Banal.
O caso da liderança é distinto. Trata-se, neste caso, de um fenômeno, não de uma pessoa. Aqui se depara com um papel a ser desempenhado e não com uma pessoa que detém um poder pressuposto. O resultado é muito diferente, pois o papel pode ser desempenhado por quantas pessoas puderem participar em um dado evento, reconhecidas as diversas competências. Saímos da imagem heroica do maestro para a criativa e prazerosa imagem de uma roda de chorinho ou de uma banda de jazz, onde todos podem brilhar, demonstrar suas competências, fazer seus solos, improvisar e criar sem, qualquer que seja o instante, perder a noção do todo.
Ainda que haja uma pessoa responsável pelo grupo, ou com maior reconhecimento, cada um assume a responsabilidade em um devido momento, de acordo com sua competência. E todos ganham com isso. Pode-se argumentar que esse grupo não toca uma sinfonia. É verdade, mas a sinfonia já está escrita e predeterminada; cada vez mais precisamos de inovação e de pequenos grupos (células) que consigam entregar seus projetos com presteza, adequação e originalidade.
Acho ótimo que tenhamos grandes sinfônicas e filarmônicas – e eu admiro muitas. Contudo, enquanto exigimos virtuosos perfeitamente ensaiados, esquecemos que raramente se vê um membro de uma orquestra sorrindo, tal qual no choro ou no jazz, bem como é um grande risco esperar pela perfeição do grupo de virtuosos, já que a demanda pelo perfeito tende a postergar a compreensão de que já se chegou ao muito bom. E não existe, na dimensão humana, a perfeição, mas, sim, o aperfeiçoamento.
Desse modo, um protagonismo rotativo implica assumir a responsabilidade, mas não se impor desempenhar a tarefa; identificar e reconhecer a tarefa, mas não se impor como dono do conhecimento; ter conhecimento, mas não deixar de buscar opinião com os outros. Saber “sair de cena”.
Portanto, o que se propõe por estes argumentos é que se deve investir no protagonismo rotativo e abandonar a idealização do líder/herói.
Em cada momento, quem exerce a liderança deve conhecer bem o caminho ou ser a pessoa mais apta seja para encontrá-lo seja para construí-lo. Ao longo desse percurso, ou até na preparação para se lançar por ele, o exercício da liderança deve incluir:
- a definição das etapas, das ferramentas, do ritmo, do prazo, da distribuição de tarefas,
- a previsão dos possíveis obstáculos, vantagens e recursos,
- a proposição de planos alternativos,
- o conhecimento da equipe e o reconhecimento pela equipe,
- o compartilhamento dos resultados e o encaminhamento subsequente.
 Ressalte-se que toda atividade de liderança deve ter sua organização balizada por preceitos éticos, formais e informais, que garantem seu respeito e compromisso com os indivíduos envolvidos direta e indiretamente, a população representada e a humanidade em seus níveis orgânicos, ambientais, socioafetivos, culturais e históricos.

Bernardo Monteiro de Castro.

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